terça-feira, 30 de novembro de 2010


Cálcis, Macedónia

Em 343, o rei Filipe da Macedónia convidou Aristóteles a tornar-se tutor de Alexandre em Pela. Durante quatro anos, o filósofo encarregou-se da educação de Alexandre e, passado este tempo, Filipe encarregou-o de supervisionar os trabalhos de reconstrução de Estagira, cidade de onde Aristóteles era oriundo e que fora devastada pela guerra.
Cumprida esta tarefa, Aristóteles resolveu regressar a Atenas, onde anteriormente (367) fizera a sua educação. Aqui viria a fundar uma escola que pôde competir com a Academia do seu mestre Platão, e que se passou a chamar Liceu, assim baptizada porque fora dedicada a Apolo Lyceos, deus de pastores, e porque foi edificada no bosque que lhe estava consagrado, na parte Leste de Atenas. O edifício da escola albergava uma imensa biblioteca, um museu de história natural e um jardim zoológico, nas suas dependências ensinava-se botânica, os costumes dos bárbaros, música, matemática, medicina, as constituições das cidades gregas, zoologia, etc. 
Nenhum dos vinte e sete tratados que se diz terem sido escritos por Aristóteles chegou até nós. O que até nós chegou foi o trabalho da, mais coisa menos coisa, sua última década de vida, ou seja, os apontamentos das suas aulas, por ele e pelos seus alunos coligidos. São estes apontamentos que no séc. I a.C. foram publicados por Andronico de Rodes.
Small talk à parte, quando Alexandre morreu em 323, acolhedor não era propriamente o primeiro adjectivo que os macedónios tinham na ponta da língua para caracterizar Atenas e os atenienses - a cidade antes fora conquistada por Filipe.
No meio da boa disposição geral, os atenienses resolveram fazer ao macedónio Aristóteles o que já tinham feito a Sócrates: acusaram-no de impiedade. Ao contrário de Sócrates, que com disposição pacífica bebeu a cicuta, Aristóteles revolveu que não daria aos atenienses a oportunidade «de pecar pela segunda vez contra a filosofia» e mudou-se para Cálcis, na Macedonia.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Doutor Avalanche em Lisboa


Uma recordação

Não durmo. Vejo uma estrada, um bosquezito,
que o meu coração com uma ânsia aperta;
para onde íamos, sós e em mútua descoberta,
eu e um outro rapazito.

Era Páscoa, o ritual longo e singular
dos velhos. E se a atracção por mim não fosse certa
- pensava - e se amanhã não voltar?
E de facto não voltou. Que enorme dor,
que espasmo a noite trouxera;
que uma amizade (soube-o depois) não era,
antes aquilo era amor;

o primeiro; e que felicidade, que enganos
eu tive, entre as colinas e o mar de Trieste,
Mas porque não durmo, hoje, com este
episódio, que creio, foi há quinze anos?

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.

Metapoiésis

Com efeito, os poetas dizem-nos, não é verdade, que é em fontes de mel, em certos jardins e pequenos vales das Musas que eles colhem os versos para, tal como as abelhas, no-los trazerem, esvoaçando como elas. E falam verdade! Com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão. Enquanto não perceber este dom divino, nenhum ser humano é capaz de fazer versos ou de proferir oráculos.
Platão, Íon, Tradução, Introdução e Notas de Victor Jabouille, Editorial Inquérito, 2000.

O sentimento intenso, extático ou terrível, sem objecto ou excedendo o seu objecto, é algo que toda a pessoa de sensibilidade conhece; é sem dúvida assunto de estudo para os patologistas. Ocorre frequentemente na adolescência: a pessoa vulgar adormece estes sentimentos, ou domina os sentimentos para se adaptar ao mundo real; o artista mantém-nos vivos por meio da sua capacidade para intensificar o mundo, em função das suas emoções.
T.S. Eliot, «Hamlet» ("Hamlet and his Problems", 1919), in Ensaios Escolhidos, Tradução de Maria Adelaide Ramos, Livros Cotovia, 1992.

Istambul


sábado, 27 de novembro de 2010

«O Banquete» segundo os senhores do " Better Book Titles"


"The Machinist" de Brad Anderson, 2004

Exactamente o limite da exterioridade

A imagem é uma coisa corporal, é o produto da acção dos corpos exteriores sobre o nosso próprio corpo, por intermédio dos sentidos e dos nervos. Como a matéria e a consciência se excluem mutuamente, a imagem por ser materialmente gravada numa parte do cérebro, não pode ser animada por consciência alguma. Ela é um objecto, a título idêntico aos dos objectos exteriores. Ela é exactamente o limite da exterioridade.
Jean-Paul Sartre, A Imaginação, Manuel João Gomes (trad.), Difel, 2002

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Se a cinza visse, depois de enterrada,
via a escola do latim e do grego,
à esquerda, o campo onde a cada jornada
o Leeds United desaponta os adeptos,

coisa que os faz perder a auto-estima
e ao tomar esse atalho para casa
a glória do clube ali se confirma
pintando as lápides já c'um grão na asa.

O cemitério sobre a mina deserta
alui e deixa os ob'liscos inclinados:
prà esquerda FODA-SE, à direita MERDA,
grafitos ébrios de adeptos danados.

Um banqueiro acautelou o futuro,
mas jaz agora só com a mulher,
encabeça neste obelisco escuro
negra dinastia que ninguém quer,

entretanto inscrita c'um palavrão.
Filhos e netos abalaram todos,
pra não voltar à terra, ao seu talhão,
e legaram aos skins mármore a rodos.

Tony Harrison, V., Tradução de Manuel Portela, Antígona, 1999

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Le Petit Train

O Holocausto, visto desde Bollywood. Na verdade a banda é francesa, os anos são os 80 (claramente) e a cantora, entre outras coisas, teve uma notável carreira na indústria pornográfica. Parece que o Gainsbourg a achava uma devassa.

Coscuvilhices à parte, o melhor de tudo é que a coisa não é para rir. De todo.

Du hast den Farbfilm vergessen

Uma canção sobre a situação política na RDA em 1972. E sobre fotografia.

Pede-se desde já perdão pela versión em causa. É o melhor que oferece o Youtube.

3 & 4 de Dezembro




































Mais informações aqui.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ésquilo, esse outro Filho do Homem

Queria lançar-me de cabeça contra uma hélice de navio,
tal como quisera uma vez lançar-me de cabeça
contra a janela da vidro da torre de um miradouro,
separar-me desse modo da beleza,
da terra, do paraíso,
da cidade santa de Sion, do enganoso amor.
E esse estado não passava.
Durante o resto da viagem permaneci ausente,
olhos arregalados de melancolia,
o coração como um tique-taque um pouco maligno,
apenas um espírito vital como tantas vezes, durante o trabalho,
no recanto diário,
curvado sobre as palavras,
as designações originais,
as palavras primitivas de Ésquilo, esse outro Filho do Homem:
«A Terra-Mãe», «as risadas, incontáveis, das ondas do mar»,
no brilho sempre renovado
do nosso «relampejar» através do seu antigo «olho astral» grego.
Não, logo no dia em que o vivi tive a consciência
de que a esse prodígio faltava a duração.
É certo que consegui reter o momento,
mas, mesmo assim,
não tinha direito a ele.
Voltar p'ra casa, única e simplesmente voltar p'ra casa, pensava eu,
regressar ao pobre jardim
que abandonara, com as panículas cinzentas das gramíneas
que por toda a parte iam desabrochando,
os esporos dos dentes-de-leão (tendo ainda em cima o resto encarquilhado da flor),
as urtigas (refúgio predilecto das borboletas),
que alongam sem cessar o emaranhado das suas raízes,
e as gotas de orvalho, intumescidas,
com a túnica de prata acetinada e tensa,
nas folhas cónicas dos pés-de-leão,
regressar ao jardim que trocara por este
esplendor mediterrânico que não foi criado para mim,
perdendo o florescer das malvas, tanto as de um azul suave
como as que se ostentam púrpureas, e o dos lábios do tomilho,
brancos e minúsculos,
o amadurecer dos cachos do sabugueiro
(todo o arbusto coberto de melros ruidosos),
dos molhos de avelãs com as suas gargantilhas
(todo o arbusto coberto de esquilos sempre a cuspir),
das pêras grandes e carnudas
(toda a árvore coberta de vespas que a vão roendo,
o chão todo coberto de caracóis a escorrer baba)
e também o estalar outonal
das primeiras folhas secas na nogueira.
E mais uma vez o senti:
o êxtase é sempre de mais,
a duração, pelo contrário, é que está certa.

Peter Handke, Poema à Duração, José A. Palma Caetano, Assírio & Alvim, 2002

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Feliz

Feliz todo aquele que tem os seus locais de duração;
porque, mesmo que para sempre seja forçado a partir para uma terra estranha,
sem esperança de regressar ao seu próprio ambiente,
não será jamais um expatriado.

Peter Handke, Poema à Duração, José A. Palma Caetano, Assírio & Alvim, 2002

(Este livro é tão tão tão bonito. Não fiques aí sentado. Vai lê-lo.)

Lyon coberta de neve
























Et tu, amice mei, ubi es?
Há algo velho em mim
que está velho no mundo, que vai apagando
o meu rosto com o musgo do cansaço,
que faz tremer as minhas mãos
debaixo do vazio celeste e pouco a pouco à vida
a vai enchendo de sal.

Diego Doncel, «A Presença da Angústia, 2», Trípticos Espanhóis, 2.º vol., Joaquim Manuel Magalhães (trad.), Relógio d'Água, 2000

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

'Die Mörder sind unter Uns' de Wolfgang Staudte, 1946


Vigília no Cabo Sul, II. Inventário

Sei que nem todos os caminhos que existem em mim
são transitáveis... Penso (por exemplo)
naqueles que deram alguma vez o seu fruto
mais doce, e contudo foram depois
fechados para sempre e de surpresa,
por forma inexplicável. E naqueles que nunca
consegui abrir hoje também penso:
continuam comigo, abandonados, sós,
cansados de ser pura expectativa,
sonhos dentro de um sonho, apenas.
E penso nos caminhos que eu próprio
percorri vezes repetidas,
até deixá-los sem respiração, sem norte
e aborrecidos: já não poderia
sequer regressar facilmente por eles.
Nem todos os caminhos que existem em mim
me pertencem... Meus são apenas os que espero
e nunca chegam. Todos os que disse
com palavras escuras, em pleno sol, cansado
do sol e de mim próprio, muitas vezes.

Vicente Valero, Trípticos Espanhóis, 2.º vol., Joaquim Manuel Magalhães (trad.), Relógio d'Água, 2000

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ponto de situação

Lugares Mal Situados: Um lugar para se continuar a visitar mesmo depois de ter acabado.

Only a northern song: nada a ver com nada.

Baby, you're a rich man

terça-feira, 16 de novembro de 2010

"American Psycho" de Mary Harron, 2000

O meu alemão está na fase "colorless green ideas sleep furiously"

Verzeihung. Guten tag.
Ja bitte?
Da kommt kein Geld. Ist der Geldautomat kaputt?
Das ist kein Geldautomat. Das ist unser Kamel. Der Geldautomat ist dort. Unser Kamel ist kaputt.
Wie bitte?
Unser Kamel ist kaputt!
Unglaublich!

O silêncio desperta no ouvido

Ocupa-se uma vaga no parque compra-se
um jornal e tu repetes-te no sono
A noite corre viva pelos teus olhos
passa em beleza fresca e clareada

Bruno Weinhals, Uma conversa passa pelo papel e outros poemas, Tradução colectiva, Maria Teresa Dias Furtado (org.), Quetzal Editores, 1988

Marijuana & livrarias (literalmente)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

"The Social Network" de David Fincher, 2010

Ida a terra

Respiras o fim da pedra
O fim da pedra é a ferrugem
o calcário era espada ou couraça
que seria ele antes
Elmo ou avalancha

Respiras o fundo lamacento entre os destroços
Atrás de ti o último passo do continente
uma paisagem de ferro

Bruno Weinhals, Uma conversa passa pelo papel e outros poemas, Tradução colectiva, Maria Teresa Dias Furtado (org.), Quetzal Editores, 1988

sábado, 13 de novembro de 2010

Ridículo

O here we go, round and round again
The Virgin Prunes

E assim a minha alma
começou a perder aulas,
a fechar-se em canivetes,
a deixar crescer a sombra.
Já sabia que, na vida,
só depois do exame
é que chega a lição.

Fui servido ao caprichoso
ziguezague do acaso;
que me trouxe quase inteiro a
este pálido caderno,
onde toda a matemática
se ri do meu intento
de somar a não o nada.

  José Miguel Silva, Vista para um Pátio seguido de Desordem, Relógio d'Água, 2003

Redução


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Três

Era um gato com oito semanas e medo
dos meus oito anos. Ao cravar em mim
as unhas, ainda vejo o sangue
no seu focinho banzo. Às vezes o amor
degenera em violência. Ao terror do outro
respondemos com pedradas cegas.
Aflitos por não compreender.

 José Miguel Silva, Vista para um Pátio seguido de Desordem, Relógio d'Água, 2003

Meio conto

All we ever wanted was everything
All we ever got was cold.
Bauhaus

Havia a sensação de que tínhamos chegado
demasiado tarde para qualquer coisa
que de momento me escapa, talvez a confiança
na crítica da faculdade de julgar.

A lona do circo jazia dobrada no empedrado
onde afiávamos navalhas. O riso
não escondia nada, era simplesmente
demasiado tarde. Para quê negá-lo.

Por isso revolvíamos os bolsos, era tudo
o que tínhamos, quinhentos escudos
e a vida estragada. Nas mãos de cada um,
a linha interrompida da fortuna.

Uma coisa havia de bom no esquecimento:
era barato e abolia a fronteira de neve
entre um pulmão e outro.

José Miguel Silva, Vista para um Pátio seguido de Desordem, Relógio d'Água, 2003 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ítaca, n.º2


Algumas considerações sobre como chegar a Ítaca

1. Dirija-se a uma das livrarias indicadas na lista escondida pelo link acima, tire a Ítaca da estante e/ou pilha de livros onde estiver (se não houver pilha de livros pergunte ao/à livreiro/a [lembre-se: se a livraria está na lista, a Ítaca tem de estar na livraria!]), avance resolutamente até ao balcão segurando firmemente Ítaca. Proceda à troca comercial com o/a livreiro/a: dê-lhe, na divisa que ele/a estiver disposto/a a aceitar (muito provavelmente o euro), o valor indicado no autocolante colado na contracapa e/ou escrito a lápis na folha de rosto do exemplar de Ítaca que escolheu para si. Se lhe for possível não aceitar o saco de plástico (ou papel) que o/a livreiro/a em seguida lhe tentará oferecer, seja amigo do ambiente: guarde Ítaca na sua mala, bolsa, bolso (depende do tamanho do bolso) ou mochila. 
2. O que acontece em seguida escapa ao âmbito destas instruções. 
3. Se seguiu estas instruções, saiba que acaba de comprar um objecto potencialmente perigoso, a um nível geral designado como livro mas mais especificamente denominado Ítaca. O que este objecto contém no seu interior e o que lhe poderá fazer, ninguém sabe. Os efeitos, depois de lido, variam de pessoa para pessoa e, regra geral, nunca são os mesmos a cada leitura.
Livros: nunca ficam sem bateria e estarão sempre à sua espera no ponto onde os deixar.

 Ítaca é um livro*. Mas é também um lugar.

*Poderá conter no seu interior vestígios de café, aparas de tabaco Amsterdamer, réstias de bolachinhas e um persistente cheiro a maçã e canela. De um modo geral, porém, é feita de ideias, textos & imagens.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

To flip out

Um lago perto de casa

Ela sonha com a Holsácia, pensei eu, com uma pastagem e gado malhado na Holsácia, com arbustos de groselhas. E eu com a margem de um lago perto de casa.

Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia, Tinta-da-China, 2008

O que acontece quando


















 

O que acontece quando uma pessoa chega ao fim das suas forças? (Não é doença, não é dor, não é infelicidade, é pior.) Numa manhã, ela senta-se diante da sua tenda e olha para lá do rio. No outro lado estão as mulas escondidas pela erva alta da margem. A erva verga-se ao sopro do vento como uma seara, e o vento traz também para o desfiladeiro o fumo que se escapa da porta do tchai-khan. Os coudéis do xá, vindos das pastagens, chegam nos seus cavalos brancos e malhados, já estafados, e com gritos fazem-nos passar a galope os bancos de saibro. O sol do meio dia é forte e branco. O vento parece arrastá-lo consigo, juntamente com as nuvens e a poeira. Os olhos cansam-se de olhar para cima. Rochedos cinzentos, basalto contra azul, dor sem esperança. Se pousamos por algum tempo o olhar na água negra, rápida, quebrada, sentimos uma vertigem, qualquer coisa como medo.

Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia, Tinta-da-China, 2008

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Go write yourself a book

Go write yourself a book and put
therein first things that might define a world:

There's a great clock upon which the pole star
will return, turn,
and return. Cheops' stone mountain's
a lyric gesture. Homer
underwrites not adventure
but the way back home
before Odysseus may shed
a life's disguise.

Robert Duncan, "Under Ground", The Opening of the Field, New Directions Paperbook, 1973.

II

Seta que voando passa
arremessada ao azar,
e que nunca se sabe onde
a tremer se cravará;

folha que da árvore seca
arrebata o vendaval,
sem que alguém acerte o sulco
onde ao pó regressará

onda gigante que o vento
frisa e impele no mar,
e rola e passa e se ignora
que praia buscando está;

luz que em círculos trementes
brilha, prestes a expirar,
e que não se sabe deles
qual o último será.

Isso sou eu, que ao acaso
cruzo o mundo, sem pensar
de onde venho nem aonde
meu passo me levará.  

Gustavo Adolfo Bécquer,Rimas,Tradução de José Bento, Relógio d'Água, 1994.

Keeping the rhyme

By stress and syllable
by change and rhyme and contour
we let the long line pace even awkward to its period.

The short line
we refine and keep for candor.

This we remember:
ember of the fire
catches the word if we but hear
("We must understand what is happening")
and springs to desire,
a bird-right light
sound.

This is the Yule-log that warms December.
This is new grass that springs from the ground.

Robert Duncan, The Opening of the Field, New Directions Paperbook, 1973.

domingo, 7 de novembro de 2010

Expressionismo alemão

"Este expressionismo é horrível. Todo o sentimento relativo ao corpo belo, redondo ou magnificamente informe, estiola como a esperança pela paz. O espírito triunfa em toda a linha sobre o que é vital. O que é místico, espiritual, tísico, inchado, extático, aparece empolado e tudo cheira a alho. [...] Vão expulsar-me do céu desses nobres, idealistas e espirituais. [...] E eu proclamo a minha independência e cuspo e estou farto do que é novo e começo a trabalhar com o que é muito antigo, com o que foi experimentado mil vezes, e faço o que quero, mesmo que aquilo que quero seja mau. E eu sou um materialista e um malandro e um proletário e um anarquista conservador e não escrevo para a imprensa, mas para mim, para ti e para os japoneses."
Bertolt Brecht apud «Definição de um território: os primeiros trabalhos do jovem Brecht", Vera San Payo de Lemos in Bertolt Brecht: Teatro 1, Livros Cotovia, 2003

Bunny suicides

.

O jovem Brecht













"De vez em quando assalta-me a ideia de que os meus trabalhos possam ser demasiado primitivos e antiquados, ou toscos e pouco ousados. Ando em busca de novas formas e faço experiências com a minha maneira de sentir como os mais jovens. Mas depois volto sempre a reconhecer que a essência da arte é simplicidade, grandeza e sentimento e a essência da sua forma, frescura."
Bertolt Brecht (zweiundzwanzig jähre alt) apud «Definição de um território: os primeiros trabalhos do jovem Brecht", Vera San Payo de Lemos in Bertolt Brecht: Teatro 1, Livros Cotovia, 2003

sábado, 6 de novembro de 2010


Boas notícias

De Isaac Babel, será publicada uma antologia de contos, igualmente no primeiro trimestre de 2011.

(The light foot hears you and the brightness begins)

the information flows
that is yearning. A line of Pindar
moves from the area of my lamp
toward morning.

In the dawn that is nowhere
I have seen the willful children

clockwise and counter-clockwise turning.

Robert Duncan in "A Poem Beginning with a Line by Pindar", The Opening of the Field, New Directions Paperbook, 1973

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Waiting for Elmo

Absolutamente maravilhoso. Prometeria outros para breve mas confio que as pessoas saberão chafurdar no youtube. Recomendo "1 flew over the cuckoo's nest" e "twin beaks". E todos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

I can't read

Gatos de Livraria

Um catálogo de gatos que vivem em livrarias. O meu favorito é o da The Iliad Bookshop. Por cá, na loja da Cotovia na rua da Trindade também há um gato, preto, que dorme dentro de um cesto.

Epígrafe

I know that this was life, – the track 
Where on with equal feet we fared 

Alfred Lord Tennyson, In Memoriam A.H.H., XXV

Fingimento

Se o «fingimento» é, sem dúvida, a mais alta forma de educação, de libertação e esclarecimento do espírito enquanto educador de si próprio e dos outros, o «testemunho» é, na sua expectação, na sua discrição, na sua vigilância, a mais alta forma de transformação do mundo, porque nele, com ele e através dele, que é antes de mais linguagem, se processa a remodelação dos esquemas feitos, das ideias aceites, dos hábitos sociais inconscientemente vividos, dos sentimentos convencionalmente aferidos. Como um processo testemunhal sempre entendi a poesia, cuja melhor arte consistirá em dar expressão ao que o mundo (o dentro e o fora) nos vai revelando, não apenas de outros mundos simultânea e idealmente possíveis, mas principalmente, de outros que a nossa vontade de dignidade humana deseja convocar a que o sejam de facto. Testemunhar do que, em nós e através de nós, se transforma e por isso ser capaz de compreender tudo, de reconhecer a função positiva ou negativa (mas função) de tudo, e de sofrer na consciência ou nos afectos tudo, recusando ao mesmo tempo as disciplinas em que outros serão mais eficientes, os convívios em que alguns serão mais pródigos, ou isolamento de que muitos serão mais ciosos – eis o que foi, e é, para mim, a poesia.
Jorge de Sena in «Prefácio», Poesia - I, Moraes Editores, 1977 (segunda edição).

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Marcial XI.93 - uma releitura de Byron, 1750 anos depois

Pierios uatis Theodori flamma penates   
     abstulit. Hoc Musis et tibi, Phoebe, placet?
 O scelus, o magnum facinus crimenque deorum,   
     non arsit pariter quod domus et dominus!

(Epigramas, XI.93)

The Laureate's house hath been on fire: the Nine
All smiling saw that pleasant bonfire shine;
But, cruel fate! Oh damnable disaster!
The house – the house is burnt, and not the master!

(The Complete Works of Lord Byron, Paris, 1837, p. 888)


As chamas roubaram ao poeta Teodoro o lar
     das Piérias. Parece-vos bem isto, Musas, e a ti, Febo?
Que delito, que maldade enorme e crime dos deuses,
     que à uma não ardessem morada e morador!

Cristina Pimentel, Paulo Sérgio Ferreira, Delfim Leão, José Luís Brandão, Marcial. Epigramas IV, Ed. 70, Lisboa, 2004

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


Das ist das

"I make poetry as other man make war or make love or make states or revolutions: to exercise my faculties at large."

Robert Duncan, na contracapa de The Opening of The Field (New Directions Paperbook, 1973)