Com efeito, os poetas dizem-nos, não é verdade, que é em fontes de mel, em certos jardins e pequenos vales das Musas que eles colhem os versos para, tal como as abelhas, no-los trazerem, esvoaçando como elas. E falam verdade! Com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão. Enquanto não perceber este dom divino, nenhum ser humano é capaz de fazer versos ou de proferir oráculos.
Platão, Íon, Tradução, Introdução e Notas de Victor Jabouille, Editorial Inquérito, 2000.
O sentimento intenso, extático ou terrível, sem objecto ou excedendo o seu objecto, é algo que toda a pessoa de sensibilidade conhece; é sem dúvida assunto de estudo para os patologistas. Ocorre frequentemente na adolescência: a pessoa vulgar adormece estes sentimentos, ou domina os sentimentos para se adaptar ao mundo real; o artista mantém-nos vivos por meio da sua capacidade para intensificar o mundo, em função das suas emoções.
T.S. Eliot, «Hamlet» ("Hamlet and his Problems", 1919), in Ensaios Escolhidos, Tradução de Maria Adelaide Ramos, Livros Cotovia, 1992.
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