Não durmo. Vejo uma estrada, um bosquezito,
que o meu coração com uma ânsia aperta;
para onde íamos, sós e em mútua descoberta,
eu e um outro rapazito.
Era Páscoa, o ritual longo e singular
dos velhos. E se a atracção por mim não fosse certa
- pensava - e se amanhã não voltar?
E de facto não voltou. Que enorme dor,
que espasmo a noite trouxera;
que uma amizade (soube-o depois) não era,
antes aquilo era amor;
o primeiro; e que felicidade, que enganos
eu tive, entre as colinas e o mar de Trieste,
Mas porque não durmo, hoje, com este
episódio, que creio, foi há quinze anos?
Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.
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