Seta que voando passa
arremessada ao azar,
e que nunca se sabe onde
a tremer se cravará;
folha que da árvore seca
arrebata o vendaval,
sem que alguém acerte o sulco
onde ao pó regressará
onda gigante que o vento
frisa e impele no mar,
e rola e passa e se ignora
que praia buscando está;
luz que em círculos trementes
brilha, prestes a expirar,
e que não se sabe deles
qual o último será.
Isso sou eu, que ao acaso
cruzo o mundo, sem pensar
de onde venho nem aonde
meu passo me levará.
Gustavo Adolfo Bécquer,Rimas,Tradução de José Bento, Relógio d'Água, 1994.
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