Sei que nem todos os caminhos que existem em mim
são transitáveis... Penso (por exemplo)
naqueles que deram alguma vez o seu fruto
mais doce, e contudo foram depois
fechados para sempre e de surpresa,
por forma inexplicável. E naqueles que nunca
consegui abrir hoje também penso:
continuam comigo, abandonados, sós,
cansados de ser pura expectativa,
sonhos dentro de um sonho, apenas.
E penso nos caminhos que eu próprio
percorri vezes repetidas,
até deixá-los sem respiração, sem norte
e aborrecidos: já não poderia
sequer regressar facilmente por eles.
Nem todos os caminhos que existem em mim
me pertencem... Meus são apenas os que espero
e nunca chegam. Todos os que disse
com palavras escuras, em pleno sol, cansado
do sol e de mim próprio, muitas vezes.
Vicente Valero, Trípticos Espanhóis, 2.º vol., Joaquim Manuel Magalhães (trad.), Relógio d'Água, 2000
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