quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O que acontece quando


















 

O que acontece quando uma pessoa chega ao fim das suas forças? (Não é doença, não é dor, não é infelicidade, é pior.) Numa manhã, ela senta-se diante da sua tenda e olha para lá do rio. No outro lado estão as mulas escondidas pela erva alta da margem. A erva verga-se ao sopro do vento como uma seara, e o vento traz também para o desfiladeiro o fumo que se escapa da porta do tchai-khan. Os coudéis do xá, vindos das pastagens, chegam nos seus cavalos brancos e malhados, já estafados, e com gritos fazem-nos passar a galope os bancos de saibro. O sol do meio dia é forte e branco. O vento parece arrastá-lo consigo, juntamente com as nuvens e a poeira. Os olhos cansam-se de olhar para cima. Rochedos cinzentos, basalto contra azul, dor sem esperança. Se pousamos por algum tempo o olhar na água negra, rápida, quebrada, sentimos uma vertigem, qualquer coisa como medo.

Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia, Tinta-da-China, 2008

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