segunda-feira, 14 de junho de 2010

O meu olhar espera-me nas coisas,
para me olhar a partir delas
e me despojar do meu olhar.
A minha memória espera-me nas coisas
para me provar que não existe o olvido.

E as coisas apoiam-se em mim,
como se eu, que não tenho raiz,
fosse a raiz que lhes falta.

Será que talvez as coisas
também esperem por mim?

Será que tudo o que existe
se espera fora de si?

Será afinal que os meus braços
estão abertos para me abraçar?

Roberto Juarroz, Poesia Vertical, Arnaldo Saraiva, Campo das Letras, 1998

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