Há poucas mortes inteiras.
Os cemitérios estão cheios de fraudes.
As ruas estão cheias de fantasmas.
Há poucas mortes inteiras.
Mas o pássaro sabe em que ramo último poisa
e a árvore sabe onde termina o pássaro.
Há poucas mortes inteiras.
A morte é cada vez mais insegura.
A morte é uma experiência da vida.
E às vezes são precisas duas vidas
para poder completar uma morte.
Há poucas mortes inteiras.
Os sinos dobram sempre o mesmo.
Mas a realidade já não oferece garantias
não basta viver para morrer.
Roberto Juarroz, Poesia Vertical, Arnaldo Saraiva (trad.), 1998.
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