terça-feira, 29 de junho de 2010

Soneto

O que eu sabia de outros tempos era
Rugido de água ou duma floresta
Para lá da janela, mas breve adormecia
E ficava jazendo ausente em seu cabelo.

Por isso nada sei dela, senão destruído de noite
Algo do seu joelho, não muito do pescoço,
Cheiro de sal de banho no cabelo negro
E mais o que dela ouvi dizer.

Dizem-me que breve se esquece a sua face
Por ter vista talvez pra alguma coisa
Vazia como folha por 'screver.

Mas dizia-se que ela própria sabe
Não ser claro o seu rosto que se esquece.
Se lesse isto, não sabia de quem era.

Bertolt Brecht, Poemas, Paulo Quintela (trad.), Asa, 2007.

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