terça-feira, 22 de junho de 2010

Recordando Marie A.

1
Naquele dia, na lua azul de Setembro,
Calmo, debaixo da ameixoeira nova,
Tive-a eu, calma amada pálida,
Nos braços como um sonho lindo.
E sobre nós, no belo azul de Verão,
'Stava uma nuvem que olhei por longo tempo:
Era muito branca e ia lá muito alto,
E quando ergui os olhos tinha-a levado o vento.

2
Desde esse dia muitas, muitas luas
Boiaram calmas no horizonte e passaram.
As ameixeiras, com certeza as derrubaram -
E o que é feito do amor? - Perguntas tuas -
E eu respondo: Não me posso lembrar.
E no entanto, sim, sei o que queres dizer.
Mas do rosto, realmente não me posso recordar.
Apenas sei que outrora o beijei.

3
E também do beijo me teria já esquecido
Se não fosse aquela nuvem que lá estava.
Dessa ainda sei e hei-de sabê-lo sempre:
Era muito branca e muito alto pairava.
As ameixeiras talvez inda floresçam,
E a tal mulher tem sete filhos já, talvez.
Mas aquela nuvem floresceu só por minutos,
E, quando ergui os olhos, no vento se desfez.

Bertolt Brecht, Poemas, Paulo Quintela (trad.), Asa, 2007

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