Entre os Gregos, a maior e mais antiga filosofia está em Creta e em Esparta, e é lá que está a maior parte dos sofistas da Terra: mas eles negam e fingem ser ignorantes, para que não pareça que era pela sua filosofia que sobressaíam entre os Gregos, mas apenas na luta e na bravura, temendo que os outros, se soubessem em que coisa são excelentes, se dedicassem ao mesmo exercício que eles: a sapiência. São de tal modo dissimulados que enganam os 'espartanos' das outras cidades, que, para os imitarem, furam as orelhas, colocam tiras de couro nas pernas, frequentam os ginásios e usam vestes curtas, pensando que a supremacia dos Espartanos entre os Gregos é devida a tudo isso. Pelo contrário, os Espartanos, quando querem falar livremente com os seus sofistas, e estão fartos de se esconder, expulsam da sua terra esses 'espartanos' ou outros estrangeiros que lá se encontrem para poderem estar com os sofistas sem os estrangeiros darem conta; para além disso, não permitem que nenhum jovem parta para outras cidades, e o mesmo fazem os Cretenses, para que não desperdicem os ensinamentos que receberam.
Ecco, o «contracanto» de Sócrates a Protágoras.
In Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Maria Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Livros Cotovia, 1990.
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