sábado, 9 de outubro de 2010

Homero cego

Outra vez uma noite de Inverno, e a Lua
Tinge vagamente os mármores e retira-se.

Os seis pinheiros silvam e retesam-se e ali
A oriente, onde as estrelas gregas se apagam e revivem

Cada noite em resplandecentes banhos de som,
Detém-se o pincel impregnado da manhã.

Agora, todos cederam ao Inverno
Coisas caducas, a pele da cobra e as armas do veado,

Pele rejeitada da uva e da poesia.

Homero cego, os lagartos ainda sorvem o calor
Das pedras e a Primavera repete-se ainda,

Silenciosa como moedas nos cabelos,
Ditongo após ditongo interminavelmente.

Troca um olhar com aquele cuja arte
Se alia à introspecção contra a solidão,

Neste Fevereiro de 1946, pulso normal, nervos em repouso:
Herdeiro de uma perturbação parecida, ultimamente

Cada vez menos convencido dos seus dotes com as palavras,
Ao pé deste prato de azeitonas, deste tinteiro seco.

Lawrence Durrell in Leituras do Inglês, João Ferreira Duarte (trad.), Relógio d'Água, 1993.

1 comentário:

  1. É belo. Li o original e a tradução não me parece esplêndida. Mas é belo. Como os príncipes que conheceram Alexandria...

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