«A sua grande sombra ainda a arder»: Homero falando de Ajax, rancoroso, no Inferno. Charles Péguy era de estatura franzina, no entanto era extraordinariamente robusto para as longas marchas e para o manejo das armas. Tal como Ajax, fizera da sua existência um duelo mano a mano: contra o compromisso, contra o brilho oleoso do discurso político, da manipulação fiscal, contra o oportunismo das relações públicas e privadas, contra mundum. Até ao mais alto grau da aparente destruição mental (próximo do fim, não havia praticamente nenhum aliado, nenhum apoiante, nenhum amigo com quem Péguy não tivesse cortado relações e que não tivesse despachado para o limbo da desonra mundana). Como Sócrates, outro agitador, Ajax e Péguy não passaram de fantassins, soldados de infantaria, até ao âmago, com um sentido exacto do chão amargo que pisavam e do peso das armas que levavam às costas. Ambos eram mestres da ira.
George Steiner in «Tamborilando nas Portas - Péguy», Paixão Intacta, Margarida Periquito e Victor Antunes (trads.), Relógio d'Água, 2003.
O nosso Geoffrey tem um livro sobre ele, sabias? The Mystery of the Charity of Charles Peguy.
ResponderEliminarNão sabia, Miguel. Vou ver isso. Este ensaio é qualquer coisa.
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