domingo, 11 de dezembro de 2011

Lugano entre os polacos


O que a seguir se narra aconteceu na Igreja da Divina Providência, em Odivelas, durante a festa de Natal da comunidade polaca.

O Eduardo deitou os olhos ao Lugano que eu levava na mão. Abriu-o de pernas para o ar. Descobriu a posição certa, abriu muito os olhos, chilreou qualquer cousa em espanhol ou em russo (não percebi), apontou para um verso, abriu a boca e começou a correr por entre os polacos da festa onde estávamos. A mãe estava a ensaiar com o coro, mas o Eduardo interrompeu o ensaio para mostrar a página aberta, sempre com o dedo espetado num verso qualquer, de boca aberta, com exclamações de entusiasmo. Fez o mesmo à maestrina, estupefacta, e a mais meia dúzia de polacos siderados. Depois correu para a igreja (a acção descrita decorria na sacristia, onde o coro de que a Ana faz parte ensaiava), e sentou-se, como a imagem documenta, a "ler" atentamente. Ao fim de largos minutos tentei negociar. Pesquei uma brochura com imagens coloridas do presépio, e propus a troca. Ele disparou uns olhos indignados, apertou o Lugano e fugiu para a sacristia.

2 comentários:

  1. A melhor divulgação que qualquer livro pode querer :D

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  2. Restará talvez acrescentar que eu e o Eduardo mantivemos longos diálogos acerca da noção de tradição em alguns dos poemas e que ele já me disse que, embora discordasse profundamente da utilização da segunda pessoa do singular na enunciação do discurso, coisa de marca claramente eliotiana, de um modo geral até tinha gostado.

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