Não sou irreligioso, não. Pelo contrário, compartilho a opinião de Schleiermacher, outro teólogo de Halle, e que definiu a Religião como «o sentido e o gosto do infinito», vendo nela «um facto constituinte», inerente ao homem. Por isso, a ciência da Religião deveria lidar não só com axiomas filosóficos mas também com um facto psíquico, inerente às pessoas. Isso traz-me à mente a prova ontológica da existência de Deus, que sempre preferi a todas as demais e que da ideia subjectiva de um Ser Supremo deriva a Sua presença objectiva. Que esta prova não resiste à razão mais do que qualquer outra foi demonstrado com palavras sumamente enérgicas por Kant. Mas a Ciência não pode dispensar a razão, e pretender fazer uma ciência do sentido do infinito e dos eternos enigmas significa unir pela força duas esferas totalmente diversas entre si de um modo inadequado, a meu ver, e que me deixa sempre confuso. A religiosidade, que, em absoluto, julgo alheia ao meu coração, é certamente diferente da religião positiva, ligada a uma confissão. Não teria sido mais indicado abandonar o "facto" desse sentido humano do infinito ao sentido piedoso, às Belas-Artes, à livre contemplação e até à pesquisa exacta que sob a forma de cosmologia, astronomia, física teórica, pode servir tal sentido, dedicando-se de modo perfeitamente religioso ao mistério da Criação - ao invés de fazer dele uma ciência espiritual à parte e de nele alicerçar um edifício de dogmas, cujos adeptos se combatem cruelmente por causa de um verbo auxiliar?
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