sábado, 24 de dezembro de 2011

Das coisas inabordáveis


Assim como os pequenos lobos brincam entre eles e se preparam para o sexo e as caçadas, também os irmãos, embora criados em castidade e defesa do pecado, se entregam a mil ares de sedução e de traição até aos mais obscuros passos da paixão humana. Vêde as irmãs Brontë, as escritoras. Há melhor sarabanda do desejo, melhor orquestra de suspiros e tormentos? O irmão chega a apagar o retrato dele no meio dos retratos delas. E morre como um peixe no seu tanque de água salobra, procurando saltar e libertar-se. Querem exemplo melhor duma família feliz, embriagada de amor, e de álcool e de urzes das serras? Assim nascem os romances; do proibido e negro pasto do coração. Quando não houver mais esse gosto das coisas inabordáveis e trágicas, não haverá romance, nem literatura, nem nada.

Agustina Bessa-Luís, Antes do degelo

2 comentários: