sexta-feira, 2 de março de 2012

Com o espírito da casa

Acabei hoje o sabonete cujo uso iniciaste aquando
o teu último banho cá em casa. Ficaram coisas que
te pertencem e que não sei se deva guardar,
a saber: um candeeiro, um desenho, uma fotografia.
Outras coisas ficaram
alguns discos e já não sei que livro. Não ferem
tanto. Há ainda a memória da pele, o amarelo dos
olhos e algumas expressões do teu português falado.
Mas estas últimas coisas já se confundem com o
espírito da casa, quero dizer-te coma poeira da
casa.

João Miguel Fernandes Jorge, A Jornada de Cristóvão de Távora: Primeira Parte, Colecção Forma, Editoral Presença, 1986.

6 comentários:

  1. O sabonete, principalmente o norueguês, é um grande símbolo para o fim de uma história de amor :P

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  2. O que demonstra que cada indivíduo tem o dever de não desprezar o potencial poético de cada um dos objectos que o rodeia.

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  3. Desprezar, entenda-se, mandar pelo cano abaixo.

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  4. Ut certe dixerat Quintus si saponem cognouerit, non saponis perenem qualitatem negues...

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