terça-feira, 8 de março de 2011

Oscar para a melhor cena num livro

Foi para o lavatório. Onde, diante do grande silêncio dos ladrilhos, gritou aguda, supersônica: Estou sozinha no mundo! Nunca ninguém vai me ajudar, nunca ninguém vai me amar! Estou sozinha no mundo!
Estava ali perdendo a terceira aula, no longo banco do lavatório, em frente a várias pias. "Não faz mal, depois copio os pontos, peço emprestado os cadernos para copiar em casa - estou sozinha no mundo!", interrompeu-se batendo várias vezes a mão fechada no banco. O ruído de quatro sapatos de repente como uma chuva miudinha e rápida. Ruído cego, nada se reflectiu nos ladrilhos brilhantes.

Clarice Lispector, "Preciosidade", Laços de Família, Livros Cotovia, 2008

2 comentários:

  1. Ai!, não evito estremecer intimamente ante uma coisa destas...
    Obrigado, Tatiana! Foi bom recordar.

    «E ela ganhou os sapatos novos.»
    (Sorrisos). Chave de ouro.

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