sexta-feira, 25 de março de 2011

litoral

Não me queixava quando me
desejavas apenas poucas horas
da antemanhã, sob escuro espesso,
olhos fechados e membros cerzidos.
Era que eu também desejava mas
que me visses em luz monocórdia,
ao olímpico gesto de tatear as tuas costas
de navio ao erro do exílio
e
se nisto eu encontrava estirpe
para os olhos ou abrigo de titânio para
o rosto
ou simplesmente um modo de te fazer
ficar por mais horas até que o pavor
me dissipasse a água e enfim fôssemos
iguais na condição da chuva e o teu
marco no meu tronco fosse algo
que nunca mais pudesses levar ou tomar
de volta.

Tatiana Pequeno, A Sul de Nenhum Norte, n.º1

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