sábado, 12 de março de 2011

Canção do Engate


Um excerto da Arte de Amar, de Ovídio (43 a.C.-c.17 d.C).


E não percas as famosas corridas de cavalos;
     muitos são os prazeres que proporciona o circo repleto de povo.
Não tens precisão dos dedos, para poderes segredar o que te vai na alma,
     nem é por acenos que deves acolher aquela que assinalaste;
junto a essa mulher, sem ninguém a impedi-lo, aí te deves sentar;
     encosta o teu corpo, tanto quanto te for possível, ao corpo dela;
ainda bem que as marcações te obrigam, mesmo que não queiras, a encostar-te,
     e que ela, graças às condições do lugar, tem de consentir ser tocada por ti.
Hás-de, então, buscar um começo de conversa amigável;
     sejam lugares comuns a desencadear as primeiras palavras:
"A quem pertencem os cavalos que ali vêm?", faz por perguntá-lo, interessado,
     e, de pronto, o que ela apoiar, seja quem for, apoia-o tu também.


(Ovídio, Arte de Amar, I.135-146. Trad. Carlos Ascenso André, Livros Cotovia)

3 comentários:

  1. Prova insofismável do sentido prático dos romanos , deve ter sido assim que se levantou a Roma Victor . Lembrou -me outro manual - Da velhice , do Cícero . Não sei se se vendiam mais à época ( duvido ! ) , mas que têem mais «sex-appeal» do que os livros de auto-ajuda que hoje abundam nos escaparates das lojas do Belmiro,isso ninguém pode negar...

    ;-)

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  2. "A quem pertencem os cavalos que ali vêm?" . Definitivamente a arte do latino é a do engate . Nós até podíamos ter escrito os Analectos ou o Dhammapada , «mas não era a mesma coisa , pois não» ?

    :-))

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