Pélops não é um único, como Teseu ou Cadmo. Não é um grande guerreiro, nem um herói, nem um inventor. É apenas o portador de um talismã. A unicidade que não existe nele acolhe-a no seu corpo. A sua omoplata de marfim é a ligação artificial com o divino, cobre a falta originária do homem. O que reveste aquele vazio e se articula com o corpo de Pélops condensa um imenso poder. Esse poder vai muito para além do portador, e transmite-se como um excesso às gerações seguintes.
Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Maria Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Livros Cotovia, 1990.
Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Maria Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Livros Cotovia, 1990.
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