terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lugares de Sombra

Estas às vezes vagarosas ilusões
em breve desistidas abrem
no meio das frases
lugares de sombra, desiguais tempestades.

E arrancam ocultas folhagens,
rastros de cólera, madeiras
corroídas pela torquez
da impaciência.

E ao mover os dedos,
a tua imensa sombra
arde no sublime cenário
destas imagens.

E assomam mais ferozes
águas, desiguais
tempestades...

Destas duras tábuas ergues
sustos singulares, cruéis fulgores,
tormentos. E nas espáduas depois
vejo rebentar o linho.

O fulgor magoado
das escarpas, os ombros
cobertos de giz.

Não digas súplicas, abre a
janela, olha os mesmos
subúrbios onde a luz parece
atravessar as sebes calcinadas.

E com esse brilho arterial
devasta a cor dos lábios.
Destrói portas, leva-nos
pelas frases dentro até

sentirmos sucumbir este céu
sob o inquieto rumor
destas duras tábuas
justamente.

Fernando Luís, Sólon, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1987

Sem comentários:

Enviar um comentário