sexta-feira, 28 de maio de 2010

Deut.20

Quem está na península da felicidade
que seja poupado pela morte.
Aquele que plantou uma vinha
mas não lhe provou ainda os frutos,
aquele que construiu uma casa
mas ainda não viveu nela
aquele que arranjou mulher
mas ainda não dormiu com ela.
Aquele que tem um caderno vazio, um
lápis por usar ou um lenço limpo.
Aquele que vê que vai chover.

Mas quem conhece o caminho numa cidade,
sabe assobiar num caule de erva
ou quem se entricheirou num grão de areia
e o vê como se fosse o mundo, não enxuga
o seu cavalo depois de uma cavalgada, não limpa
os óculos embaciados, viu a chuva cair,
usou o seu lenço, chorou as suas lágrimas -
Ou quem anseia voltar para o passado
para desenterrar os ossos enterrados
dar vida a coisas mortas ou juntá-las;
uma folha de Outono, um bilhete de cinema,
um pêlo púbico -
Podem mandá-lo para o campo de batalha, se for preciso,
sozinho - mas não esperem dele uma vitória.

Judith Herzberg
, O que resta do dia: Antologia de Poesia com um Texto em Prosa, Ana Maria Carvalho (trad.) Cavalo de Ferro, 2008.

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