quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
The Tollund Man
~
My heavy head. Bronze-buffed. Ear to the ground.
My eye at turf level. Its snailskin lid.
My cushioned cheek and brow. My phantom hand
And arm and leg and shoulder that felt pillowed
As fleshily as when the bog pith weighed
To mould me to itself and it to me
Between when I was buried and unburied.
Between what happened and was meant to be.
On show for years while all that lay in wait
Still waited. Disembodied. Far renowned.
Faith placed in me, me faithless as a stone
The harrow turned up when the crop was sown.
Out in the Danish night I'd hear soft wind
And remember moony water in a rut.
~
Seamus Heaney, District and Circle, Faber and Faber, 2006.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Inniskeen Road: July Evening
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Lo que al día le pido
que me cumpla los sueños, que me entregue
los deseos cumplidos de otros días,
porque al fin he aprendido que los sueños
son igual que las alas de un insecto
y al tocarlos el hombre se deshacen;
y es que un sueño al cumplirse es otra cosa
que no ayuda a volar.
Lo que al día le pido es ese sueño
que al rozarlo se parta en otros sueños
lo mismo que una bola de mercurio,
y que brille muy lejos de mis manos.
Lo que al día le pido empieza a ser
más difícil incluso de alcanzar
que los sueños cumplidos, porque exige
la fe antigua en los sueños.
Lo que al día le pido es solamente
un poco de esperanza, esa forma modesta
de la felicidad.
Vicente Gallego
sábado, 25 de fevereiro de 2012
The Aerodrome
To warehouses and brickfields (designated
The Creagh Meadows Industrial Estate),
Its wartime grey control tower rebuilt and glazed
Into a hard-edged CEO-style villa:
Toome Aerodrome had turned to local history.
Hangars, runways, bomb stores, Nissen huts,
The perimeter barbed wire, forgotten and gone.
But not a smell of daisies and hot tar
On a newly-surfaced cart-road, Easter Monday,
1944. And not, two miles away that afternoon,
The anual bright booths of the fair at Toome,
All the brighter for having been denied.
No catchpenny stalls for us, no
Awnings, bonnets, or beribboned gauds:
Wherever the world was, we were somewhere else,
Had been and would be. Sparrows might fall,
B-26 Marauders not return, but the sky above
That land usurped by a compulsory order
Watched and waited - like me and her that day
Watching and waiting by the perimeter.
A fear crossed over then like the fly-by-night
And sun-repellent wing that flies by day
Invisibly above: would she rise and go
With the pilot calling from his Thunderbolt?
But for her part, in response, only the slightest
Back-stiffening and standing of her ground
As her hand reached down and tightened around
mine
If self is a location, so is love:
Bearing taken, markings, cardinal points,
Options, obstinacies, dug heels and distance,
Here and there and now and then, a stance.
Seamus Heaney, District and Circle, Faber and Faber, 2006.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
This
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Yes, but he did it only three times
As Mil e Uma Noites: História da escrava Anis al-Jalis e de Nur al-Din Ali ibn Khaqan"So Nur al-Din, who was drunk, went to her, took her legs, and pressed them to his sides, while she locked her arms around his neck and began to give him adept and passionate kisses, and he at once undid her trousers and took her virginity. When the little maids saw what happened, they cried out and screamed, while Nur al-Din, fearing the consequences of his action, got up and fled.When the vizier's wife heard the cries, she came out of the bath in a hurry to see what was causing the commotion in the house. She came up to the two maids and said, «Woe to you, what is the matter?» They replied, «Our lord Nur al-Din came and beat us, and since we were unable to stop him, we fled, while he entered Anis al-Jalis's chamber and embraced her for a while, but we don't know what he did afterward, except that he came out running.» The vizier's wife went into Anis al-Jalis's chamber and asked her, «O my daughter, what happened to you?» Anis al-Jalis replied, «O my lady, as I was sitting here, a handsome young man suddenly came in and asked me, 'Aren't you the one whom my father bought for me?' and I replied 'Yes', for, by God, my lady, I thought that he was telling the truth. Then he came up and embraced me.» The vizier's wife asked, «Did he do you know what to you?» Anis al-Jalis replied, «Yes, but he did it only three times.» The vizier's wife said, «I hope that you will not have to pay for this!» and she and the maids began to cry and beat their faces, for they feared that Nur al-Din's father would kill him."
Trad. Husain Haddawy
Quarta-feira de Cinzas
And place is always and only place
And what is actual is actual only for one time
And only for one place
I rejoice that things are as they are and
I renounce the blessed face
And renounce the voice
Because I cannot hope to turn again
Consequently I rejoice, having to construct something
Upon which to rejoice
de TS Eliot. Ash Wednesday.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Entrevista
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Que le lecteur sache lire et tout est sauvé
domingo, 19 de fevereiro de 2012
A frágil voz
João Miguel Fernandes Jorge, Não é Certo este Dizer, Presença, Colecção Forma, 1997.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Cigarette
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Um pentâmetro
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Principia
είναι γιατί τ' ακούς γλυκότερα, κι η φρίκη
δεν κουβεντιάζεται γιατί είναι ζωυτανή
γιατί είναι αμίλητη και προχωράει
στάζει τη μέρα, στάζει στον ύπνο
μνησιπήμων πόνος.
Να μιλήσω για ήρωες να μιλήσω για ήρωες: ο Μιχάλης
που έφυγε μ' ανοιχτές πληγές απ' το νοσοκομείο
ίσως μιλούσε για ήρωες όταν, τη νύχτα εκείνη
που έσερνε το ποδάρι του μες στη συσκοτισμένη πολιτεία,
ούρλιαζε ψηλαφώντας τον πόνο μας "Στα σκοτεινά
πηγαίνουμε, στα σκοτεινά προχωρούμε..."
Οι ήρωες προχωρούν στα σκοτεινά.
Λίγες οι νύχτες με φεγγάρι που μ' αρέσουν.
Homicídio
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Desencorajar os outros leões
A gramática espiritual de Kandinsky
Wassily Kandinsky altera, criando, novos signos através da obra de arte. Pretende que o objecto consiga ser subtraído, essa rigidez do signo, para que o abstracto, o interior ganhe voz. Através da novidade, as formas de representação quebram a asfixia presente na obediência às formas de linguagem, aos sinais anteriormente estabelecidos. Recuando à aproximação da génese ontológica dessa linguagem, o que se propõe escutar é então a parole, o discurso interior.
In the end, I came to experience consciously my earlier feelings of freedom, and thus the merely incidental demands I made of art gradually disappeared. They vanished in favor of one single demand: the demand of inner life of art.
Composition 6:
I carried this picture around in my mind for a year and a half, and often thought I would not be able to finish it. My starting point was the Deluge.
(...)
In a number of sketches I dissolved the corporeal forms; in others I sought to achieve the impression by purely abstract means. But it didn't work. This happened because I was still obedient to the expression of the Deluge, instead of heeding the expression of the word "Deluge". I was ruled not by the inner sound, rather by the external impression.
Wassily Kandinsky, Reminiscences/Three Pictures ["Rückblicke", "Komposition 4", "Komposition 6"; "Bild mit weissem Rand"]. Berlin 1913.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
bênção - robert kelley
Robert Kelly
isso é uma palavra nevada uma palavra carregada
para ocidente na nossa acrópole sinistra
(à sombra de colunas iónicas
esfregou as costas a um pilar)
pois é sempre apropriado
caminhar lentamente à volta de algo
com um galho de pereira preso entre os dedos
levemente como uma varinha para adivinhar
as intenções da Besta Que Vem
(vira-te para o lado, estás a ressonar)
preciso do meu café, a religião
está demasiado longe daqui num clima de gente
(dentes de retórica antiga, zeugma-te
comigo ou é um pássaro muito maior
strouthos para hastear a mim tua quadriga)
peliça duma virgem, torque dum Celta
(o que é o ouro? resposta na contracapa)
aliás o amor é tal e qual a álgebra
mas agora mesmo não posso dizer porquê tu podes
a liberdade tem alguma coisa a ver, resolver
para duas incógnitas, mas porquê em árabe?
As crianças esperam que a política acabe
reparaste em todos aqueles bailarinos nus
que celebram as cerimónicas cívicas nas nuvens
como saltaricam solenemente à maneira de liturgia
e falam apenas com os seus membros em movimento ou
scordatura de ventos pipitantes carvalhos castanhos
esses cadáveres folhas deixadas para troçar do nosso verão
(oh vem até mim de novo desta vez não hei-de
ou deixar-te ir, tira a roupa
há tantos livros para ler)
agressores natural este clima puderam comer
nunca ninguém conta as flores no jarro
ou se contam não se preocupam com as pétalas portanto
estamos cercados por uma beleza sem número
(a terra tem dedos não tocamos em pele fora a nossa)
a minha estalactite preferida mede quatro pés
na carteira prateada polida vê o lírio a reflectir
a música que ontem à noite não foi ouvida de novo agora ecôa
(uma das características da manhã tal como a barba no meu queixo)
toca-me sou um estrangeiro ouve-me acordar
será que as pessoas vivem em casas pelas razões erradas?
haverá um clima onde a Cleópatra esteja ainda viva
ainda jovem audaz e perita em química
linguística ela com o grande pharmakon
ela que foi a última a ler as pedras?
(esforça-te mais a ouvir se queres mesmo que ela te dê atenção)
os pássaros tornam-se pesarosos com o seu próprio clamor
como crianças que brincam à espera do anoitecer
voz de mães que as mandam voltar para casa
para longe das contingências de outras pessoas
(ninguém pode sofrer como uma criança não te lembras?)
vira-te para cá e fala duma vez comigo ou isto tudo é
um engate duma noite só que nunca acabou?
Robert Kelley. Aqui. Tradução minha.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
En route to the absolute male
João Miguel Fernandes Jorge, Não é Certo este Dizer, Presença, Colecção Forma, 1997.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
contra tyrannos
Of the personality as a mask;
of character as self-founded, self-founding;
and of the sacredness of the person.
Of licence and exorbitance, of scheme
and fidelity; of custom and want of custom;
of dissimulation; of envy
and detraction. Of bare preservation,
of obligation to mutual love;
and of our covenants with language
contra tyrannos.
Sobre a personalidade como uma máscara;
sobre o carácter como auto-fundado, auto-fundador;
e sobre a sacralidade da pessoa.
Sobre a licença e a exorbitância, sobre esquema
e fidelidade; sobre hábito e falta de hábito;
sobre a dissimulação; sobre a inveja
e a detracção. Sobre a nua preservação,
sobre a obrigação ao amor mútuo;
e sobre as nossas alianças com a linguagem
contra tyrannos.
Geoffrey Hill. Scenes from Comus. Penguin: 2005. (Tradução minha.)
Marvel at our contrary orbits. Mine
salutes yours, whenever we pass or cross,
which may be now, might very well be now.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
três perguntas
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Esse mundo de sombras
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Sobre uma meditação de Synésius
eloquente e creio que bela apenas me ensinou
as virtudes geométricas teoremas axiomas alguns
severa como era das verdades do paganismo.
Depois Atenas. Onde a sabedoria?
Os que navegam sob um vento favorável
os que batidos pela tempestade onde para eles
as doutrinas dos que ensinaram
em Atenas não a elegância do discurso
mas a filosofia na força do pensado
na virtude da obra no exemplo do vivido. Onde?
Que possa acreditar?
Estarei morto?
Ou será o exílio?
O inverno e o verão têm o mesmo fim: a fertilidade da terra.
A coragem do navegante não existe só na tempestade
também na calma tem o seu lugar. E como é difícil este
século o quarto
o corpo habita ainda um ponto do mundo e ninguém
comanda já o silêncio ou melhor o progresso (do
cosmos ou dos godos?).
Não nos voltaremos a ver porque da solidão nada sei.
Cyrene envia-me. Aqui estou Arcadius para deixar na tua fronte
uma coroa de ouro para deixar no teu coração o sinal da filosofia.
Cyrene cidade grega venerada célebre mil vezes
no canto de antigos sábios Cyrene grande ruína.
Arcadius a tua vontade imperador
fará meu país digno da sua antiguidade
a palavra espera o país livre. Quando?
Que coisa nos aguarda senão correr para a
ruína? Eu queria o exército só composto
por romanos. O legislador não deve dar armas
senão aos que se alimentam na prática das suas leis
o mais imprudência. Quero dizer-me guerreiro
animado pela filosofia invoco aqui um deus supremo
mostrando-te Arcadius
a filosofia associada ao império.
Porque da solidão não nos voltaremos a ver.
Sem perigo nos plainos da Líbia festas e prazeres
o estudo da ciência a caça um ou outro poema
entre os gregos a memória de algum sábio Hypatia
sobre todos os gregos e egípcios Hypatia a quem chamo mãe
irmã amiga da longe Alexandria auxílio
na construção de quadros astronómicos escritos
sob o céu luminoso pelas noites de Cyrene.
Nos plainos da Líbia só se ouve o eco testemunho
da minha voz dividida pelos platónicos de Atenas
de Alexandria
adoptando a essência divina dos cristãos.
Assim vou permanecendo eu Synésius sábio rico feliz
admirado quase bispo de Ptolemaïs.
Divido o meu tempo entre o estudo e o prazer
porque não passarei de novo o mar até Atenas?
E fizeram-me de facto hoje bispo. Não nos voltaremos a ver.
Quem corre hoje na arena é feliz por certo
e quem estica o arco para lançar a flecha e
o que deixa tombar sobre as espáduas longa
cabeleira por certo bem feliz será o que é
célebre entre os rapazes entre as raparigas
pela beleza do seu rosto. Quanto a mim escuto hoje apenas
a fé de Niceia.
Não nos voltaremos a ver porque prisioneiro
das muralhas já só sei espiar os sinais do fogo
e rondar com o meu cavalo toda a surpresa do bárbaro
na máquina que fabrico a guerra continua as praças
foram tomadas pela fome pela fadiga eu que passava
as noites sem sono a espiar o curso dos astros
durmo apenas breves momentos medidos pelo som
da clepsidra (deu-ma Hypatia mesmo no inferno lembrarei
Hypatia). Caiu o culto velho caiu o culto novo.
Estamos em fuga tomados feridos vendidos como escravos
no entanto coloco diante de mim os vasos sagrados
as colunas do santuário a santa mesa e permanecerei vivo
sou um bispo casado mas um ministro de deus
por ele a minha vida
por ele nem a memória da data da minha morte
quando desaparecer sob ruínas sob ruínas.
João Miguel Fernandes Jorge, Obra poética, vol. 2 (Turvos Dizeres/Alguns círculos), Presença, Lisboa, 1987.