Of the personality as a mask;
of character as self-founded, self-founding;
and of the sacredness of the person.
Of licence and exorbitance, of scheme
and fidelity; of custom and want of custom;
of dissimulation; of envy
and detraction. Of bare preservation,
of obligation to mutual love;
and of our covenants with language
contra tyrannos.
Sobre a personalidade como uma máscara;
sobre o carácter como auto-fundado, auto-fundador;
e sobre a sacralidade da pessoa.
Sobre a licença e a exorbitância, sobre esquema
e fidelidade; sobre hábito e falta de hábito;
sobre a dissimulação; sobre a inveja
e a detracção. Sobre a nua preservação,
sobre a obrigação ao amor mútuo;
e sobre as nossas alianças com a linguagem
contra tyrannos.
Geoffrey Hill. Scenes from Comus. Penguin: 2005. (Tradução minha.)
Neste texto, verossimilmente a abertura mais arriscada e exposta dum livro de poesia que jamais li, voltamos ao modo épico - frontalmente opondo-se ao coro demótico de Speech! Speech! que denunciava "heroic verse a non-starter, says ᴘᴇᴏᴘʟᴇ". (Haverá invocação? Numa República que se queira de seres humanos a esperança posta em deuses é a maior das traições, é a farça na tragédia; mas vide Lucrécio, - "alma Venus!") O propósito é o mesmo, porém, que em Speech! Speech!, como aliás talvez seja sempre o propósito em toda a poesia de Geoffrey Hill, principalmente naquela que achamos após a 'derrocada' que lhe cinde a obra em dois: Denunciar todo o falar rendido, traidor, através da honestidade cáustica que é o direito e a licença da poesia, comburir as simplificações e lugares comuns que que faz a própria voz pública metamorfosear-se em tyrannia cíclica ("language / is the energy of decaying sense; / that sense in this sense means sensus communis"), isto é, o new-speech que nos ocupa refolgadamente e que nos rouba da aliança entre dignidade humana e palavra, desolando ambas uno ictu. A rememoração de Auden, que em September 1939 assume a mesma missão ("All I have is a voice / to undo the folded lie, / The romantic lie in the brain / Of the sensual man in the street"), rememoração essa do famoso verso famosamente mudado ("We most love one another or die", aqui mudado em "obligation to mutal love"), revela que Hill seguirá os vestígios desse outro guerrilheiro da honestidade incondicional. Auden creu naqueles instantes em que "o justos trocam as suas mensagens". Hill acredita também que nem toda a palavra está já podre. "Common sense bids me add: not / all language", ousará ele poucos poemas adelante. Mas condenara esse exacto senso comum linha apenas uma acima: Será esta expectativa assente apenas em mais uma mentira, uma distração, uma esperança plantada? Será a poesia um isco para poetas e seus leitores se iludirem, como acontece com a personagem de 1984, pensando que estão a lutar e a fazer a revolução? Há versos como "That this is no reason for us to despair. The tragedy of things is not conclusive; rather, one by which the spirit moves. That it moves in circles need not detain us" que nos trespassam da convicção de que todo o cerco montado a esta estirpe de prophecia - que é a mesma da de Amós, da de Jeremias -, não fará outra coisa que torná-la mais perigosa por isso. Esta é a arma, a única talvez que não seja devorada ou contagiável, para restituir a rem publicam: ope vocis, contra tyrannos.
Marvel at our contrary orbits. Mine
salutes yours, whenever we pass or cross,
which may be now, might very well be now.
Obliquamente mas do mesmo modo:
ResponderEliminarV
Ali morreu uma miríade
E dos melhores de entre eles
Por uma velha puta sem dentes,
Por uma civilização escangalhada,
Encanto, sorrindo à bela boca,
Rápidos olhos perdidos sob a pestana da terra,
Por vinte e quatro dúzias de estátuas partidas,
Por uns quantos milhares de livros batidos.
(Pound, 5º poema de "Hugh Selwyn Mauberley", bêrson minha).