domingo, 19 de fevereiro de 2012

A frágil voz

Não o ignoro, mas a verdade é que
o esqueci há muito.
Pousava o capacete na cadeira ao lado
daquela em que se sentava
e quando não havia cadeira
deixava-o docilmente no chão
como se de peça muito amada se tratasse;
era parte do seu armado corpo,
no início das defesas e correrias da vida.
Também eu, ainda hoje, me
engano sobre o exacto sentido do verbo.
Ouve, presta toda a atenção que puderes à
frágil voz,
por um instante ela explica o interesse
da acção, as necessidades da intriga: sofrer
quer apenas dizer
estamos demasiado longe da mesma realidade.

João Miguel Fernandes Jorge, Não é Certo este Dizer, Presença, Colecção Forma, 1997.

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