esse homem que diante de ti
se senta e de perto escuta o teu
conversar doce
e o teu riso amável, isso faz
o coração tremer-me no peito
porque quando te vejo, ainda que por um instante, não
me resta um fio de voz,
não: a língua paralisa-se, corre
um fogo ténue sob a pele,
nos olhos nenhuma imagem, um latejar
nos ouvidos,
apodera-se de mim o suor e transpiro, um tremor
toma-me completamente, torno-me mais verde
do que erva, morro ou assim
me parece.
Mas tudo deve ser ousado, porque †mesmo um homem pobre†
<...>
Versão minha, a partir da edição crítica do texto grego fixado por Eva-Maria Voigt (Amsterdão, 1971). Este poema foi, por diversas vezes, traduzido entre nós, as duas versões que mais destacaria são as de Eugénio de Andrade (que não é feita a partir do original) e de Frederico Lourenço.
Não as confrontei quando fiz a minha tradução, mas sei que coincidiremos em algumas das soluções. Os maiores desvios que tive de fazer em relação ao grego encontram-se nos dois últimos versos da segunda estrofe e no primeiro verso da penúltima estrofe. Não me apetece explicar como cometo estas duas pequenas infidelidades, acredito que à custa delas preservei o melhor que pude o espírito do texto.
A solução que Lobel & Page apresentam para o segundo dos versos em que cometo uma pequena traição parece-me muito elegante, mas o bom senso diz-me que a solução de Voigt, a mesma que segue Campbell, é a que Safo mais provavelmente poderá ter escrito e, para efeitos de tradução, é isso que me importa sobretudo.
Sem comentários:
Enviar um comentário