Durante muito tempo fui um solitário entre milhares. Agora, há milhares de coisas que posso partilhar: a vista de um telhado velho e enrugado, um ninho de andorinhas na casa de banho do Hotel Savoy, o olhar irritante e esbugalhado do velho do homem do elevador, a amargura do sétimo andar, a tristeza lúgubre de um nome grego, uma gramática que, de repente, se torna viva, a triste lembrança do terrível aoristo, da pequena casa materna, do pesado e ridículo de Febo Böhlaug e Alexandre a quem as bagagens salvaram a vida. As coisas vivas tornaram-se mais vivas, e mais odiosas as que, em comum, tínhamos odiado, o céu estava mais perto e a terra submissa.
Joseph Roth, Hotel Savoy, José Sousa Monteiro (trad.), D. Quixote, Lisboa, 1991.
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