Ouve meu rogo Tu, Deus que não existes,
e em teu nada recolhe minhas queixas,
Tu que aos pobres homens nunca deixas
sem consolo de engano. Não resistes
a nosso rogo e nosso anelo vistes.
Quando de minha mente mais te aleixas,
mais recordo as histórias, as endeixas,
com que minha ama me adoçou noites tristes.
Que grande és Tu, meu Deus! Tu és tão grande
que és só Ideia; escassa é a realidade,
se o mais que pode ela se expande
para abranger-te. Por ti sofro, é verdade,
pois se existisses, Deus não existente,
também eu existiria veramente.
Miguel de Unamuno, Antologia Poética, José Bento (trad.), Assírio & Alvim, Lisboa, 2003
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