terça-feira, 18 de outubro de 2011

Caralho de guerra

Caralho de guerra caralho de guerra caralho de guerra, sou paisano de novo por uns dias e viajo na geografia mansa do teu corpo, no rio da tua voz, na sombra fresca das tuas palmas, na penugem de peito de pomba do teu púbis, mas eu e Xana e tu chuva de sábado é que somos ainda verdade, o choro súbito da nossa filha na noite dos lençóis a acordar-nos, os biberões aquecidos na cozinha em noites de angústia e de esperança, não, oiça, hoje, quando me deito, o futuro é um nevoeiro fechado sobre o Tejo sem barcos, é um grito aflito ocasional na bruma, viverei muito tempo dentro dos teus gestos

António Lobo Antunes, Os Cus de Judas, BisLeya, 2008.

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