quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Maria Andresen, Dies Irae I

A natureza é escassa e o sol quando brilha é baço;
é furtiva por aqui a alegria
quando quase sem aviso nos visita

há um foco de luz a desenhar o mundo

a luz fría, a luz do desassombro:
porque a morte de Herlofs Marthe
soa e contagia

vai manhã alta no coração de Anne
e altas são as chamas do castigo
— aqui o sol é frio —
assombra-nos como um canto de rotina
Herlofs Marthe e o seu dom pressagiante

a sentença avançará com a sua luz contida
com a sua faca propícia
a sentença avançará na sua forma fria

só Anne convoca o amor, o venenoso amor
e com Martin assim caminha sobre pedras —
ao longe, o som do machado corta frio o ar

Maria Andresen, Lugares 3, Relógio d'Água, Lisboa, 2010 apud AAVV, Poemas com Cinema, Assírio & Alvim, Lisboa, 2011

Sem comentários:

Enviar um comentário