Há verdadeiramente dias destes em que me arrasto de cansaço. Um olhar parado pousando em todas as coisas. É Agosto. Para dizer que morre de calor, o gato põe-se de barriga para cima, catatónicas patas para o ar, língua de fora. A pior coisa na passagem definitiva de um trabalho sobre historiografia para um trabalho sobre literatura, sobre mitologia, é a noção de que as personae sobre quem trabalho deixam de existir. As probabilidades de algum nome escrito na pedra me vir dizer que estiveram vivas são consideravelmente menores. Visito as minhas últimas notas, estapafúrdias de tão pormenorizadas, sobre o imenso, interminável texto da Embaixada. Uma delas diz que Macro, prefeito do Pretório em Roma no ano de 38, anos antes prefeito das Vigílias, morreu antes de ser acusado formalmente de maiestas (traição ao estado, na época imperial era uma acusação que dava ao imperador o pretexto para se desfazer de rivais em potência). Como sabemos isto? Ele doa à sua cidade a soma para construção de um anfiteatro. Uma cidadezinha chamada Alba Fucens. No anfiteatro fica uma inscrição que nos diz que se pagou a obra por sua disposição testamentária. Se ele doou o dinheiro ainda não tinha sido acusado formalmente de nada. É suicidado nesse ano. Provavelmente quê? Outubro, Novembro, no máximo. Muito provavelmente em meados de Outubro. Os seus bens não foram penhorados e vendidos em hasta pública, logo, é altamente improvável que ele tivesse sido acusado fosse do que fosse. Macro que chegou a puxar os cordelinhos na corte de Tibério. De quem Suetónio nos diz que era tão ambicioso que chegou a ceder os favores da sua esposa a Calígula de modo a aumentar a sua influência junto do jovem imperador. Qualquer coisa nisto tudo que me lembra T. S. Eliot: Gentile or Jew, o you who turn the wheel and look to windward, consider Phlebas, who was once tall and handsome like you.
A pior coisa de se passar da historiografia para a literatura é também a melhor.
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