sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Cidades

digo cidades mas o que quero dizer é sempre, quase sempre invariavelmente, cidade. meia dúzia de ruas às vezes nem sempre nem tanto. levianamente. um lugar ao de leve sem o peso dos pés sobre o coração. à excepção de um ou outro lugar todos os lugares me são um pouco colaterais. vejo isso por exemplo ao projectar-me no futuro (tal como o presente o outro tempo que não existe - segundo saramago). a minha imagem para o futuro. colaterais. isto é. o que tenho em mente não são os lugares mas as pessoas. as pessoas que me pertencem - admitindo que existem aqueles que são definitivamente nossos (quem está no lugar que é olhos fechados no fim do dia). definitivamente meu: mão fechando-se tenaz sobre o braço. corpo projectado para a frente movimento travado. um lugar que não vai a lugar nenhum. isto importa-me nos lugares, como acontece com toda a gente, o que lá acontece não o espaço (excepção feita para certa esquina que em paros está à minha espera, um dédalo de oliveiras perdido na tarde - o lugar em que pensas quando pensas em silêncio), a história que restou assente sobre a ruína. schliemman não foi à anatólia para ver cacos, pedaços de pedra.

um pouco de outro modo como a anedota que suetónio conta sobre augusto (então octaviano, ou tátá jr. como lhe chamaria antónio - o do roma ou o que em roma fora uma bela cabeça de homem - para usar uma expressão utilizada pelo meu professor de cultura romana ao mostrar o slide com a estátua do tipo - pelo menos antes de a perder) que entrando em alexandria depois de áccio pede que lhe deixem ver o túmulo de alexandre

e os alexandrinos

conxstreza conxstreza meu general

que não era, ele não o era general - toda a gente sabia que em batalhas marítimas e terrestres a tendência geral era para lhe dar o enjoo, o nó na tripa, para a guerra havia marco
o louro marco - vipsânio agripa - o seu mercúcio se isto fosse shakespeare

mas como dizia

os gregos levam-no obsequiosamente à necrópole e mostram-lhe alexandre (o que dele restava)
e há um marmelo (ou vários - não sei se a história nos diz quantos) que lhe diz
meu príncipe (não faço ideia se ele por esta altura tinha o título de princeps senatu mas soa bem para efeitos de anedocta), meu príncipe, não queres agora ver os túmulos dos ptolemeus (nunca ptolomeus, como explicou uma vez RF, logo antes de começar a falar de sociedade e política clássica - ptolomeu era o geógrafo da idade média)?
ao que augusto (octaviano na altura) responde
que eu vim aqui para olhar para um Rei não para topar com cadáveres

e assim se iniciou todo um novo capítulo na história da diplomacia greco-romana

igual em toda a parte o que se destrói. ou nada disto. como era, aquela linha de ajf em que ele falava das cidades que nos chegam durante as tempestades. as cidades que nos chegam durante as tempestades. é uma expressão brutal. depois de escrever isto a tua carreira de escritor até pode ir para o raio. até podes nunca a ter tido e não a ter depois. cidades não que nos ocorrem. que nos chegam. o que ias dizer. cidade.

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