segunda-feira, 8 de junho de 2009

À medida que a vida vai ficando mais curta, perguntamo-nos o mesmo com cada vez maior frequência. Escrevi sete romances. Adoraria escrever outros sete antes de morrer. Mas a vida é curta. E que tal desfrutá-la mais? Por vezes, tenho de me forçar a fazê-lo. Porque escrevo? Que significado tem isso? Em primeiro lugar, como disse, é o instinto de estar sozinho num quarto. Em segundo, há em mim um lado competitivo quase pueril, que quer tentar escrever um bom livro mais uma vez. Acredito cada vez menos na eternidade dos autores. Estamos a ler muito poucos dos livros escritos há duzentos anos. As coisas estão a mudar tão depressa que os livros escritos hoje serão provavelmente esquecidos dentro de cem anos. Muito poucos serão lidos. Daqui a duzentos anos, estarão vivos talvez cinco dos livros escritos hoje. Terei a certeza de estar a escrever um desses cinco? Mas, e será esse o sentido da escrita? Porque deveria eu preocupar-me em ser lido duzentos anos depois? Não deveria preocupar-me em viver mais? Precisarei do consolo de ser lido no futuro? Penso em todas essas coisas e continuo a escrever. Não sei porquê. Mas nunca desisto.

Orhan Pamuk, Outras Cores

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