quarta-feira, 10 de junho de 2009

Rápida a Sombra

Luzem na água
Cintilações
Divagam monocórdicos
Sons, ruídos
Que acompanham
A tarde a esvanecer-se

Pássaros empalhados
Vazios e nostálgicos
Marcam o ritmo

Caem como chuva
Húmidas sensações
Atravessam-se no peito
E perdem-se
Num vago mastigar

Há uma guerra
Sem sentido com a natureza
Que apaga no alcatrão
As palavras sujas

Há sons no esquecimento
Que têm o calor
Das frases feitas

Uma inundação
De saliva na boca
Ao desejar
Caminhos transparentes
Onde as cores
Fazem acordar

É um clarão
A iluminar as colinas
Que se olham com fascínio

É este querer
Que vem do nada
Que faz morrer

Rui Carlos Souto, Maneiras de Andar, Black Sun Editores, 2001.

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