sábado, 6 de junho de 2009

quantos passos para saber a forma de uma terra estranha
digamos: uma ilha – quantos passos
para pertencer à força do relâmpago
e à sua forma de seta breve, de prelúdio e de fuga
quanto tempo para percorrer os medos menores
que estão dentro do crepúsculo
de um ou dois gestos recurvos como silos
de um ou dois corpos breves de terem trigo por dentro

quantos anos é preciso gastar para saber
como respira o tom mais áspero do mar
antes de correr para fora da noite
antes de escapar para dentro da tempestade
antes que a conversa nas marés prefigure
o hábito de desferir a palavra enquanto seta

porque sendo a carne mortal
tudo tem um fim e tudo se gasta
e também o amor
e a espinha do homem dentro do amor
curvada dentro da fome e gastando-se
na melancolia de pensar nas pequenas vidas
dentro dos quartos que deviam durar para sempre
nuas de pensamento apenas imperecíveis como
tocar a pedra e mulheres com poses de estátuas
que ficam vivas só para o momento em que o poeta
medíocre as descreve enquanto fome

e também ter fome morrendo a carne
é um hábito de perder

por isso te comovem os passos em terra estranha
passos tão dentro de poço recurvos
em ires e vires de luz de meio-dia e de noite

e uma certa maneira de ser cego te comove
dentro das cores que estão em movimento

como uma maneira de nascer sem sangue
é estar estranho e novo na terra
como se as formas não te gastassem

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