quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

      Temo a verdade.
Ignorar é amar. Toda esta terra,
Estes montes (...) não os amara tanto
Se soubera o que são, e enfim os vira
Como os não vejo. Pudesse eu sem termo
Gozar, sofrendo embora a ilusão
Sem que a quebrasse. Como são tristes
Os sonhos meus, inda que lhes pese,
Só porque sonhos são, que não a vida,
Assim serem.

                          *

Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem no saber? Ser, como pedra,
Um lugar, nada mais.


Fernando Pessoa, Fausto, Tragédia Subjectiva (Fragmentos), Editoral Presença.

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