Choram os escravos a morte do atleta. Gravaram-
-lhe a cabeça de anelado cabelo, tranquilo porte
em taça negra. Hoje, pousou-a o hermafrodita, modelada
em fluxo de fogo, tensão e harmonia
pousou-a junto da estátua de Meleagro, caçador.
Não sabe de melhor
imagem, sequer a de Apolo lykeios, de grande pénis
o esculpiram. O
túmulo estava perto. A
amazona depôs o arco, as setas
entre a terra rasa sobre o corpo morto - que foi ágil
na palestra -, e o mármore
que dá forma ao herói. O véu de cinza cobre-a por
inteiro e os passos, enquanto dança.
Os companheiros de ginásio levam consigo o cráter. Os
sentidos sabem as figuras
vermelhas que se estendem ao redor
representam a sua intimidade, em homenagem
ao vencedor - a morte roubou-o
mas no desenho da taça ainda podem festejar a
nudez; coroa de flores
o rapaz eleva sobre
o amante. Vão beber a mistura de vinhos e
sentir o aroma suave das abelhas; o perdido desejo que
foi de muitos há-de voltar por uma noite mais
de orgia - matriz da história,
vinho de mel humano sobre a fonte da história.
*Pergamonmuseum
João Miguel Fernandes Jorge, Sobre Mármore, Teatro de Vila Real, Outubro de 2010.
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