domingo, 24 de fevereiro de 2013

Recordação


Nada é para mim mais perigoso do que recordar. Se recordo tão-somente uma circunstância da vida, essa circunstância cessa por si. Diz-se que a separação ajuda a reanimar o amor. É inteiramente verdade, mas reanima-o de um modo puramente poético. Viver em recordação é a mais perfeita vida em que é possível pensar, a recordação sacia mais fartamente do que toda a realidade, e tem uma segurança que realidade alguma possui. Uma circunstância da vida que é recordada já entrou na eternidade, e não tem mais nenhum interesse temporal.

Søren Kierkegaard, Ou-Ou, Um Fragmento de vida, Primeira parte. Elisabete M. de Sousa (trad.), Relógio D'Água Editores, 2013. 

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