Ser sensato é a maior excelência, sabedoria é dizer a verdade e proceder de acordo com a natureza.
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O que distingue o paganismo greco-romano é o carácter firmemente objectivo que nele transparece, efeito de uma mentalidade que, embora diferente nos dois povos, tinha de comum a tendência para colocar na Natureza exterior, ou num princípio, embora abstracto, derivado dela, o critério da Realidade, a base para a especulação e para a interpretação da vida. (...) O ideal, a especulação, são extraídos da realidade pelos gregos, não lhe são impostos nem por dentro, como no sistema índio, nem por fora como no de Cristo.
Mas mesmo que os vários pagãos à força da nossa civilização cristã tivessem tido a noção clara do que constitui a essência do paganismo, não quer isso dizer que imediatamente passariam a ser pagãos, neo-pagãos ou re-pagãos. Essas coisas, compreendidas só com a inteligência, nada são e nada valem. Tem o indivíduo que nascer com a inteligência para compreendê-las colocada no centro da sua sensibilidade. Tem o indivíduo que nascer pagão para ser pagão. Nascitur non fit, como o poeta, e, afinal, como tudo o que é estável neste mundo.
Ricardo Reis, Prosa, Assírio & Alvim, 2003.
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