Usemos um símile em estilo homérico para esclarecer a questão: sinto-me como se uma picareta tivesse acertado num veio de água e agora fosse a única coisa entre a água lá em baixo e a inundação. Há uma tensão imensa e nada que se possa fazer até avaliar concretamente se o lugar em que a picareta bateu é mesmo tão interessante quanto parece. Há, de repente, também esta adrelina brutal da tensão que é finalmente essa curiosidade humana e viva pelas coisas, pela nossa percepção das coisas, pela expectativa de iluminar um mundo. O modo como a nossa inteligência pode dançar com as coisas, como aquilo em que aplicamos o nosso entendimento é quase por vezes um modo de respirar. Uma vez li um verso de um poeta que dizia que o corpo era a dança do espírito, não me lembro já nem quem era o poeta nem em que poema estava o verso. Mas o contrário é igualmente e com alguma dose de justiça verdade. Que o espírito seja para o corpo causa de dança.
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