O resumo levou-o, até, a
reflexões sobre a vaidade humana. Pensava no preço que a vida cobra por bens
insignificantes ou muito vulgares que dá à pessoa. Ele, Kóvrin, por exemplo,
para lhe ser dada uma cátedra quase aos quarenta anos, para ser um professor
catedrático vulgar e expor numa linguagem mole, enfadonha e pensada ideias
banais e ainda por cima alheias – numa palavra, para alcançar a posição de um
cientista medíocre, precisou de estudar quinze anos: trabalhar dia e noite,
sofrer de uma grave doença mental, ter um casamento infeliz e fazer muitas
asneiras e injustiças, de que seria mais agradável nunca se lembrar. Kóvrin
tinha agora plena consciência de ser medíocre e de bom grado se resignava com o
facto, porque, na sua opinião, cada qual devia estar satisfeito com o que era.
Anton Tchékhov, Contos, III, Os Vizinhos, Relógio D'Água, 2002.
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