Quando nos aceitam logo nos rejeitam,
dizem as passagens todas que tocamos.
Dizem os corpos a que fomos dados
e os que nos fugiram.
Decretos perecíveis parecem proteger-nos
e depois outros nos distinguem
e nos matam.
Entretanto aguardo com a paciência o que vem,
bebo da árvore com sal,
confio a esperança ao que vive da derrota.
Mas o poema fala, fala de si,
apanha o real porque nele está
quem o escreve, que sou eu
que procuro deixar um sinal
de quantos nos esmagam
a todos os que são nós.
Joaquim Manuel Magalhães, in «Mãe-da-lua», Alta Noite em Alta Fraga, Relógio d'Água, 2001.
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