sábado, 12 de novembro de 2011

Laço
























Carregou no botão de enviar e pensou no Carver, que dizia que no final, tudo somado e subtraído, o que resta são palavras e que, assim sendo, é conveniente que (também as que enviamos) sejam as certas. Duas mil e quinhentas palavras é coisa pouca, basta uma palavra errada. Não tanto uma questão de economia como de efeito, portanto (make it count). O que aconteceu é que depois se lembrou de Roberto Calasso, que dizia que tudo o que nos prende, independentemente da qualidade da relação com o que nos prende, é um laço. Que é uma citação inesquecível sobretudo porque Calasso rima com laço. Mas não era isso ainda. Era a outra impressão sobre estas duas, que muitos dos nossos laços são só de palavras, que essa será a intimidade máxima que nos será concedida com as coisas que amamos, os nossos pequenos golpes de imaginação que recriam tempos por onde já não podemos caminhar (traz há dias na cabeça um texto em que conta a primeira vez que te viu, começa com a descrição do que trazias vestido, passa para o modo como acendeste o cigarro [marlboro], quando levantaste o rosto estava já vagamente apaixonada, a história da rapariga que há uns anos viu fugazmente um rapaz num corredor movimentado- o que digo, o laço com um tempo que já não existe, a ténue ponte para as coisas que nos importam, palavras só, é preciso escolhê-las bem, disse Carver). Mas não era isso, a justaposição da ideia de que só as palavras restam e que muitos dos nossos laços são só feitos por elas prefigura uma soma que me fez pensar no poeta Ruy Belo, Homem de Palavra[s].

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