Descemos por sobre as casas
Numa curva apertada e,
Num extremo do aeroporto de Paris,
Vimos um túnel vazio
– A metade traseira de um avião, negra
Sobre a neve, ninguém à volta,
Tubular, queimado, glacial.
Quando enfrentámos de novo
No escuro as pistas brancas com a neve,
Nem um som se sobrepôs
Aos altifalantes, excepto os suspiros
Solitários do piloto.
O frio das asas de metal é contagioso:
Em breve precisarás das tuas próprias asas,
Encurralado na encruzilhada onde
Tempo e vida, como faca e garfo,
Se cruzam, a linha da vida na tua palma da mão
Se parte, e a curva deixada pela passagem de um avião
Se encontra com a linha rasa do horizonte.
Imagens de alívio:
Pijamas de hospital, ecrãs à volta de uma cama,
Um homem de cara ensanguentada,
Sentado no catre, conversa animado
Por entre lábios cheios de cortes:
Vão acabar por te deixar ficar mal.
Vais dar por ti sozinho,
A acelerar em direcção a um beco
Sem saída, tarde de mais para parar,
E vais saber como é leve a morte;
Ficarás espalhado como destroços,
Pedaços de ti, cada um de formato diferente,
Hão-de projectar-se, ficarão alojados no coração
Daqueles que te amam.
Eiléan Ní Chuilleanáin, in Estradas Secundárias: Doze Poetas Irlandeses, Hugo Pinto Santos (Tradução, Selecção e Posfácio), Ítaca, Artefacto, 2013.