Mas vou dizer-lhe o seguinte: se
fosse possível a cada um de nós revelar todos os seus segredos (uma coisa,
aliás, que a natureza humana torna impossível), enfim, se fosse possível uma
coisa dessas, de maneira a que expressássemos não só aquilo de que temos medo e
nunca diremos aos outros, não só aquilo que temos medo de confessar aos
melhores amigos, mas também aquilo que por vezes temos medo de confessar a nós
próprios, então o mundo encher-se-ia de um fedor tal que morreríamos todos
sufocados. É por isso, falando entre parênteses, que o nosso convencionalismo e
o nosso decoro mundanos são muito bons. Está contida neles uma ideia profunda,
não diria moral, mas simplesmente protectora, confortável, o que é ainda
melhor, obviamente, porque a moral, na sua essência, é o conforto, ou seja, foi
inventada unicamente para o conforto.
Fiódor Dostoiévski, Humilhados e Ofendidos, Editorial Presença, 2008.
Sem comentários:
Enviar um comentário