quarta-feira, 25 de julho de 2012

Maslobóiev

– Agora, amigo, mais uma coisa – continuou ele. – Ouvi como, de início, a tua fama trovejou; depois, li várias críticas ao teu livro (palavra de honra que li, achas que já não leio nada?); depois já te encontrava de botas gastas, a andares pela lama sem galochas, com o chapéu partido… e adivinhei certas coisas. Agora ganhas o teu pão nos jornais?
– Sim, Maslobóiev.
– Portanto, és cavalo da posta?
– Coisa do género.
– Pois então, digo-te o seguinte: beber é melhor! Eu, por exemplo, embebedo-me, deito-me nas calmas no divã (o meu divã é maravilhoso, é de molas) e imagino que sou, digamos, um Homero ou um Dante, ou ainda o Frederico Barba-Roxa… É que é possível imaginarmos tudo. Ora, para ti é impossível imaginares que és Dante ou Frederico Barba-Roxa, em primeiro lugar porque queres ser tu próprio, em segundo porque, como cavalo da posta, te está proibido teres desejos. Para mim, a imaginação; para ti, a realidade.

Fiódor Dostoiévski, Humilhados e Ofendidos, Editorial Presença, 2008.

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