segunda-feira, 17 de junho de 2013

Fileiras de prisioneiros

Sucediam-se fileiras de prisioneiros; homens carregados de silêncio e cobertores. Daquele lado do Bernesga eram contemplados com amizade e medo. Uma mulher, cansada e bela, abeirava-se com uma cestinha de laranjas, a última laranja queimava-lhe as mãos: sempre havia mais presos que laranjas.

Passavam debaixo das minhas varandas e eu baixava-me até aos ferros cujo frio não cessará no meu rosto. Em compridas fileiras eram levados às pontes e eles sentiam a humidade do rio antes de entrar na treva de San Marcos, nos tristes depósitos da minha cidade envergonhada.

Antonio GamonedaOração Fria, João Moita (sel., trad. e posf.), Assírio & Alvim, 2013.

Sem comentários:

Enviar um comentário