Sucediam-se fileiras de prisioneiros; homens carregados de silêncio e cobertores. Daquele lado do Bernesga eram contemplados com amizade e medo. Uma mulher, cansada e bela, abeirava-se com uma cestinha de laranjas, a última laranja queimava-lhe as mãos: sempre havia mais presos que laranjas.
Passavam debaixo das minhas varandas e eu baixava-me até aos ferros cujo frio não cessará no meu rosto. Em compridas fileiras eram levados às pontes e eles sentiam a humidade do rio antes de entrar na treva de San Marcos, nos tristes depósitos da minha cidade envergonhada.
Antonio Gamoneda, Oração Fria, João Moita (sel., trad. e posf.), Assírio & Alvim, 2013.
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