partilha dedicada ao JP
É nisto que a edição bilingue, uma vez que me pedem para terminar com um ponto de vista sobre esta questão, me parece bastante contraditória com a própria existência da tradução. Nós temos dois olhos mas um olhar só. Que ele se fixe no erro ou naquilo que julgamos ser a verdade, este olhar organiza-se em torno de um relevo único que é preciso corrigir se a diferença entre as duas imagens retinianas se revela excessivo. Mesmo que conhecêssemos todas as línguas, no momento de ler, servir-nos-íamos de uma só — como vetor, para ser sucinto, do pensamento mental involuntário ou do sonho.
Porquê então este convite ao estrabismo mental, se a pluralidade de sentidos não pode manifestar-se senão do interior de um mesmo texto? A pretexto da confrontação, a publicação de uma versão-mãe em frente da outra surge antes como uma degeneração acusadora do corte entre as línguas, uma consolação simbólica da perda da autoridade, e uma compensação afinal facultativa, já que um leitor que não conhece a língua passe bem sem o original, e o que a conhece passa bem sem a tradução.
Dominique Grandmont. A Viagem de Traduzir. João Domingues & Maria de Jesus Cabral (trad). Edições Pedagogo (2013).
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