[PEDRO]
Ao louvares a pobreza, afirmaste a bondade do sofrimento dos pobres. Este é o pecado de que nenhuma absolvição te salvará.
[ELIAS]
Tenho ouvido com grande atenção. Se bem entendi, Pedro recusa-se a ajudar Francisco a destruir a companhia, quaisquer que sejam os meios em que Francisco estaria a pensar, não sei quais.
[FRANCISCO]
Todos os meios.
[ELIAS]
Tu, Francisco, exemplo de mansidão, tu matarias?
[FRANCISCO]
Nunca matei.
[ELIAS]
Darias matador por ti?
[FRANCISCO]
O próprio Cristo não pôde impedir que o matassem.
[LEÃO]
Heresia.
[FRANCISCO]
São heréticas todas as palavras que aqui têm sido ditas. Perserveremos nelas, digamos outras ainda mais ousadas, talvez no fim de tudo cheguemos a uma verdade que ninguém possa negar durante o tempo da sua vida.
José Saramago. A Segunda Vida de Francisco de Assis. Caminho (1987).
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