sexta-feira, 31 de maio de 2013

De hæreticis

[PEDRO]
Ao louvares a pobreza, afirmaste a bondade do sofrimento dos pobres. Este é o pecado de que nenhuma absolvição te salvará. 

[ELIAS]
Tenho ouvido com grande atenção. Se bem entendi, Pedro recusa-se a ajudar Francisco a destruir a companhia, quaisquer que sejam os meios em que Francisco estaria a pensar, não sei quais. 

[FRANCISCO]
Todos os meios.

[ELIAS]
Tu, Francisco, exemplo de mansidão, tu matarias?

[FRANCISCO]
Nunca matei.

[ELIAS]
Darias matador por ti?

[FRANCISCO]
O próprio Cristo não pôde impedir que o matassem.

[LEÃO]
Heresia.

[FRANCISCO]
São heréticas todas as palavras que aqui têm sido ditas. Perserveremos nelas, digamos outras ainda mais ousadas, talvez no fim de tudo cheguemos a uma verdade que ninguém possa negar durante o tempo da sua vida.

José Saramago. A Segunda Vida de Francisco de Assis. Caminho (1987).

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